Série de mensagens refletindo sobre a importância, os princípios e os desafios para o crescimento espiritual
Como dissemos em nossa última reflexão, o crescimento espiritual é um processo que requer investimento. Nesse sentido foi que dissemos que a busca por maturidade cristã deve ser colocada como prioridade. Talvez, para alguns, a ideia do crescimento espiritual como algo automático, seja mais interessante. Porém, evidentemente isso não existe. Certamente o anseio pelo crescimento espiritual automático, isto é, sem esforço ou participação alguma do crente, é fruto de nossa natureza caída e indisposta para as cosias de Deus. Eu gostaria de não poder dizer isso, mas a verdade é que já me vi resistindo às coisas de Deus. Creio que qualquer cristão já experimentou isso em algum momento de sua vida cristã.
Isso não deve nos causar espanto, pois todos temos esta dificuldade. Porém, este fato acentua a necessidade de se falar e pensar mais vezes sobre este ponto durante nossa caminhada com Cristo neste mundo, de modo que possamos reajustar nosso foco, e redirecionar nossos esforços sempre que se fizer necessário. O pastor norte-americano, Thabiti Anyabwile, disse em seu livro publicado no Brasil pela Editora Fiel, O que é um membro de Igreja saudável?:
“Talvez o problema mais crônico das igrejas e dos cristãos hoje em dia seja a falta de crescimento espiritual consistente e de progresso no discipulado. Todos nós conhecemos cristãos que confessam a fé e o arrependimento, mas, infelizmente, admitem que não têm crescido. Há aquela estagnação temporária ou rotina espiritual enfadonha que todo cristão experimenta e tem de vencer, de quando em quando.”.
Sua observação é que a rotina espiritual, ou até mesmo a estagnação, é um fenômeno mais ou menos comum. Em outras palavras, apesar de desgastante e desanimador, faz parte da vida espiritual. Porém, acrescenta que é esperado haver um esforço para romper com este estado de letargia espiritual. Mas e quando o cristão não rompe com esta estagnação? E quando ela parece dominá-lo por muito mais tempo do que se poderia esperar de uma situação comum ou natural? Quanto a isso, ele observa que, apesar deste fenômeno ser, de certo modo, frequente, não pode ser dominante por toda a carreira cristã, ou mesmo por um longo tempo. Ou seja, aceitar este estado já não é algo comum e natural:
“Mas há uma variedade crônica. Nesta não percebem crescimento durante um longo período. Caíram em uma situação mais grave. Não estão lutando para sair dessa situação. Eles se estabeleceram em um torpor espiritual. É normal os cristãos crescerem, trabalharem por crescimento e esperarem crescer em maturidade espiritual. Aqueles que crescem são membros saudáveis de igrejas.”
A conclusão é que os cristãos saudáveis são aqueles que estão em busca do crescimento em sua vida cristã. E ao fazerem isso, tornarão não somente suas vidas mais maduras e preparadas para glorificar o Senhor neste mundo, mas também farão com que suas Igrejas sejam lugares saudáveis para a vida comunitária.
O renomado escritor cristão, Clive Staples Lewis, ou simplesmente, C. S. Lewis, ao falar sobre o processo de crescimento do cristão, faz uma comparação entre a vida natural do ser humano e o progresso espiritual. Ele observa:
“Sua vida natural é derivada de seus pais; mas não significa que ela será mantida se você não fizer nada em prol dela. Você poderá perdê-la por negligência ou poderá pôr um fim a ela cometendo suicídio. Você precisa alimentá-la e cuidar dela; mas lembre-se sempre de que não é você que a está constituindo, ou seja, o que você está fazendo é somente preservar uma vida que recebeu de alguém.”.
O que Lewis está apontando aqui é que, assim como viemos ao mundo por nossos pais, na vida espiritual nascemos pela ação do Espírito Santo, que nos concedeu a graça de chegar a Cristo pela fé. Neste ponto, isto é, com relação ao nascimento, não há esforço do homem, tanto na vida natural que recebemos dos pais, como na vida espiritual, que recebemos do Senhor, pela graça. Por outro lado, a vida natural requer cuidados, alimentação e proteção dos perigos que a ameaçam. Assim é a vida espiritual, que requer da mesma forma, alimento e cuidados a fim de mantê-la saudável e progredindo dia a dia. Neste mesmo sentido, pouco adiante Lewis acrescenta:
“Um corpo vivo não é aquele que nunca se fere, mas aquele que é capaz de curar-se a si mesmo até certo ponto. Semelhantemente, um cristão não é uma pessoa que nunca comete erros, mas uma pessoa capaz de se arrepender (...) começando tudo de novo depois de todo tropeço que der – porque a vida em Cristo está dentro dele, curando-o o tempo todo, capacitando-o a imitar (até certo ponto) o tipo de morte voluntária que Cristo, em pessoa, assumiu”.
O ponto é que a vida espiritual, assim como a vida material, para que cresça e tenha a saúde esperada, precisa de certos cuidados e atitudes. Muitos cristãos em nossos dias têm descuidado de seu crescimento espiritual em prol de cuidar de seus interesses materiais. Às vezes, é a simples perda de foco, que tem levado alguns a se desviar do caminho da piedade. Às vezes, pode ser algo mais grave, e que precisa de atenção.
Nosso chamado com este texto é para voltarmos a ter a consciência de que é preciso crescer na vida espiritual, e que, para progredir nesta área, assim como em todas as áreas da vida, é necessário certo esforço e dedicação, nos voltando mais para Deus, valorizando o período do culto ao SENHOR, o Deus Triúno, Todo-Poderoso, zelando de nossa vida pessoal, a fim de vivermos em santidade; e, como parte da Igreja, atuando para a edificação dos irmãos.
Que haja em seu coração o desejo renovado de investir em seu crescimento espiritual nestes dias tão desafiadores, e sejamos luz para a glória do Pai e para o testemunho ao mundo.
Citações:
Thabiti Anyabwile - O que é ser um membro de Igreja saudável?
C. S. Lewis - Cristianismo puro e simples
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